Fiel ao verde-e-rosa, a Estação Primeira é mesmo coisa nossa
Baianas da Mangueira, carnaval de 80
Gervásio Baptista/Manchete

É uma espécie de reserva moral das escolas de samba. Tudo mudou e a Verde-e-Rosa continua a mesma, mesmo quando anuncia algumas inovações. Sorte nossa. O enredo (Coisas Nossas) trouxe índios, tropicália, futebol, gafieira e até a Petrobrás, Como sempre, Jamelão puxou o samba — e ninguém tem a bossa dele para esse tipo de canto. Os destaques trouxeram gente famosa, inclusive Garrincha, que provocou palmas e lágrimas. Com 3.300 figurantes que deram vida ao enredo de Ciro Ramos e aos figurinos dc Liana Silveira e Ecila Cirne, a Mangueira é a Mangueira e isso diz tudo.

Todos os anos, a Mangueira lava a alma de todos,
mesmo daqueles que não torcem por ela

NOS últimos tempos, a Mangueira nunca pinta como favorita. Vem sempre como a grande escola que é, de fato e de direito. Mas os entendidos nunca a colocam entre as que pintam como campeã. Isso se deve, talvez, ao fato de a Estação Primeira não se entregar aos caprichos de carnavalescos mais badalados. Ela trabalha com o pessoal da casa, prata própria e dela. Todos os anos — mesmo não sendo campeã — ela traz consigo a melhor tradição do samba, lava a alma de todos, até mesmo daqueles que não torcem por ela. E, dentro da escola, o destaque absoluto sempre foi a ala das baianas — logotipo do carnaval carioca de todos os tempos1.

  1. “Fiel ao verde-e-rosa, a Estação Primeira é mesmo coisa nossa”. Manchete (RJ) n.1.454, 1-3-80 p. 8-9, / 10-11. ↩︎