Jamelão de verde e rosa depõe no MIS
JAMELÃO (CANTOR) – Depoimento de Jamelão no MIS
Jaime Klintowitz/Correio da Manhã, 26-7-72

Vestido de verde e rosa e bastante atrasado (o pessoal já estava comentando que ele teria dormido no ônibus, como de costume), Jamelão foi ontem ao Museu da Imagem e do Som gravar seu depoimento e encontrar seus velhos amigos Aroldo Bonifácio e Waldinar Ranulpho, do CORREIO DA MANHÃ, Sérgio Cabral, o maestro Carioca, Albino Pinheiro e o cantor Onéssimo Gomes.

Com a voz muito calma, ele contou suas recordações desde o tempo em que era o Saruê que vendia jornais no Engenho Novo, ou o sambista da Escola de Samba Deixa Malhar, até o Jamelão — nome que foi escolhido pelo presidente do Jardim do Méier, onde ele se apresentava.

GRANDE VIDRAÇÃO

José Bispo Clementino dos Santos nasceu aqui mesmo no Rio, em São Cristóvão, a 12-5-1913, filho do pai paraibano e mãe mineira. Vendeu jornais muito tempo pelo subúrbio e conta que foi anunciando A Noite ou Vanguarda “que minha voz ficou assim aberta”.

O pai era pintor, mas Jamelão preferia uma boa “pelada” no Piedade futebol Clube, no Campo da Botija, onde era lateral esquerdo, tocar na Mangueira ou “puxar samba” na Deixa Malhar, que ficava no Largo da Segunda-Feira. Mas a “grande vidração” era mesmo a verde e rosa e muitas vezes ele ia ver os desfiles e “paquerar as cabrochas”.

A CARREIRA

Grande admirador de Ciro Monteiro e Orlando Silva, gostava de freqüentar a gafieira “Fogão” onde iam — como ele mesmo diz — “todas as empregadinhas linha de frente” cantar os sucessos de seus ídolos. Foi cantando no Jardim do Méier que ele começou a ser mais conhecido e daí foi para a Rádio Ipanema, levado por Onessímo Gomes, Rádio Transmissora, Rádio Guanabara.

Depois vieram as apresentações em “dancings”, “sempre como regra três, quando faltava o cantor principal”:

— Trabalhava de dia e cantava à noite, geralmente até três, quatro da manhã. Não sei como não era despedido, pois passava o dia inteiro dormindo em pé1.

  1. “Jamelão de verde e rosa depõe no MIS” CORREIO DA MANHÃ (RJ) n.24.322, 27-7-72 1º Caderno, p.17. ↩︎