ESCOLAS DE SAMBA

Este é o período da escolha definitiva dos sambas-enredos das escolas. É também o período em que se ativa todo o trabalho visando ao desfile, no carnaval — distribuição dos figurinos, já desenhados, definição das alegorias, em quantidade, tipo e formato, ensaios e reuniões das diversas alas. Se nenhuma alteração substancial é prevista no desfile das grande es escolas, em 1975, algumas tendências já observadas se consolidam. Uma é a preferência pelos sambas curtos, considerados mais empolgativos e fáceis de memorizar. Nota-se também a incidência cada vez maior dos trios de compositores assinando um mesmo samba (na guerra do samba-enredo, é comum entrar na parceria de determinada música um relação públicas, capaz de trabalhar o samba, lutar pela sua preferência). Outro fato verificado é a consolidação de certo tipo de profissionais dentro da escola, principalmente figurinistas e cenaristas — para um espetáculo visual como é o desfile, ninguém confia mais apenas no amadorismo dedicado dos membros da agremiação. Nota-se também o empenho em inaugurar novas sedes ou criar locais de ensaios distantes do núcleo da escola e que possam atrair um público que, de outra forma, não iria até lá. A Portela, há anos, faz ensaios no Mourisco, em Botafogo. O Império ensaia junto ao Aeroporto Santos Dumont, londe de Madureira. A Mocidade Independente de Padre Miguel mostra seu esforço planejado de ficar entre as grandes: além de contar hoje com um cenarista e figurinista renomado, Arlindo Rodrigues, inaugurou uma quadra de ensaios na Barra da Tijuca, para os que não podem ou não querem ir a Bangu. Aquela clássica história: quando Manomé não pode ir à montanha, a montanha etc., etc.

Amanhã, terça-feira, será escolhido o samba do desfile de 75 da Mangueira. São três os finalistas: os sambas de Tolito, Mozart e Delson Togal: Jorge Zagaia (campeoníssimo), Nilton Russo e Comprido: e Lecy Brandão e José Simões. O 1° vice de divulgação, Percival Pires. o Perci, explica que a tendência à letra curta se mantém no samba, pois desde que Zuzuca apareceu, as coisas se modificaram. Os sambas são pequenos, mas chamam atenção.

As alegorias da Mangueira de José Rodrigues e Bigode, funcionários da Casa da Moeda — três carros e alegorias de mão para quase todos os integrantes da escola. O enredo: Imagens Poéticas de Jorge de Lima.

— Escolheu-se esse tema — explica Perci — porque a Mangueira foi bastante feliz quando procurou enaltecer os escritores e artistas. Ganhamos com Monteiro Lobato e fomos Vice com Vila-Lobos, um dos nossos melhores desfiles. Por isso. este ano a comissão olhou com vontade para a poesia. Não mostraremos nada sobre a vida de Jorge de Lima, mas desenrolaremos todo o enredo em cima de sua obra.

Os figurino — já distribuidos — foram desenhados por Eloi Machado, “campeão dos desfiles do Teatro Municipal”, que trabalha primeira vez na Mangueira:

— Fizemos uma espécie de concorrência, em que cada figurinista falava sobre o que pretendia fazer. E gostamos das idéias do Elói.

Entre os destaques da Mangueira, os mais importantes são Ilazir Miranda, a popular Zinha: Edith Lanusse; Dona Edina; Terezinha Pessoa e Vanda. Calcula-se que os gastos fiquem em torno dos CrS 500 mil, sem contar as fantasias individuais, ai se chegaria a Cr$ 1 milhão.

Os ensaios da Mangueira estão se realizando às “sextas-feiras na quadra da Escola, o Palácio do Samba, na Rua Visconde de Niterói, 1 072. As rodas de samba foram suspensas desde agosto.

Os grandes sambistas como Cartola, ainda trabalham em nome da Escola, embora não a frequentem como antes. Segundo Perci, é comum um visitante pedir para conhecê-los. Aí então é escolhido um dia especial para seu comparecimento. Os ingressos custam Cr$ 15,00 (homem) e Cr$ 5,00 (mulheres)1.

  1. “Literatura dá sorte”. JORNAL DO BRASIL (RJ) 11-11-74, CADERNO B p.5. ↩︎