TEXTO DE ROBERTO PAULINO

Hoje é dia de festa no Rio porque é dia de festa na Mangueira. É que a Escola de Samba Estação Primeira vai escolher o samba-enrêdo que será cantado por seus milhares de componentes no desfile de domingo de Carnaval, na Avenida Presidente Vargas. “Carnaval dos Carnavais” é o enrêdo. Darcy da Mangueira e Hélio Turco, de um lado, e Padeirinho, Nilton Russo e Moacyr, do outro, são os concorrentes. No Esporte Clube Garnier, na Rua Ana Neri, Estação do Rocha, às 21 horas.

O julgamento de um samba-enrêdo depende muito do entusiasmo das pastôras. O sorriso de Neuma, pastôra-modelo mostra bem a alegria da Mangueira e do Rio
O julgamento de um samba-enrêdo depende muito do entusiasmo das pastôras. O sorriso de Neuma, pastôra-modelo mostra bem a alegria da Mangueira e do Rio

Tudo com muita rivalidade até o momento em que o samba fôr escolhido. Daí para a frente êle passa a ser de todo o mundo mangueirense. Os perdedores, como sempre, serão os primeiros a “puxar” o samba dos que venceram. Porque do momento da escolha em diante o samba passa a ser da Mangueira. Passa a ser de tôdas as pastoras, de todos os passistas, de todos os que, com orgulho, vestem verde e rosa no carnaval.

Os dois sambas estão muito bem cotados. Os dois têm seus admiradores, sua torcida. Os compositores são todos homens acostumados à vitória e ao sucesso. Padeirinho tem 32 anos de Mangueira e já teve a honra de representar a Mangueira no desfile maior. Seu samba Getúlio Vargas, em 1956, foi um sucesso. Nilton Russo está há pouco tempo em Mangueira. Mas há muito tempo no samba. Êle começou na extinta Unidos da Capela, que depois de fusão com a Aprendizes de Lucas transformou-se em Unidos de Lucas. Lá criou um grande samba-enrêdo, Sublime Pergaminho, que representou Lucas no carnaval de 1967.

Darcy da Mangueira já dispensa apresentações. É o homem do Monteiro Lobato, e, nos últimos cinco anos “faturou” quatro sambas-enrêdo. Hélio Turco é branco, gago, desafinado e meio irritadiço. Mas seu retrospecto é “da pesada”. De 1959 até agora, portanto, há 13 anos, Hélio assina 10 sambas-enrêdo da Mangueira. É considerado um dos mais perfeitos letristas de todos os tempos, em tôdas as escolas de samba.

BRIGA RUIM

A quadra do Esporte Clube Garnier, onde a Estacão Primeira de Mangueira está ensaiando até que sua nova quadra fique pronta, deve pegar fogo logo mais à noite. Todos êles prometem — e confiam plenamente — na vitória. Mas o impormente tante não é isto. O importante é que a Mangueira vai vibrar. O ritmo estoteante da bateria vai falar. Os tamborins vão repicar com aquêle amor que só o samba sabe estimular.

Padeirinho e seu passado de mais de 30 sambas gravados. Padeirinho com a carioquice que êsses anos de Mangueira lhe deram. Padeirinho e seus sambas de gíria, sucessos incontestes nas vozes de Jamelão, de Nara Leão, de Eliana Pittmann e de Jair Rodrigues. Hélio Turco e sua bagagem campeã. Darcy e seus sucessos. Nilton Russo e o “Sublime Pergaminho” de outras côres. Êles vão estar lá no Garnier. Para defender com unhas e dentes a glória total de ouvir seu samba entoado na Avenida Presidente Vargas. Mas com a consciência perfeita de que o melhor é que deve representar a Mangueira dêles. Por uma vitória final. Pelo supercampeonato1.

  1. PAULINO, Roberto. “Mangueira faz a festa: samba-enrêdo sai hoje”. Correio da Manhã (RJ) 3-12-71, 1° Caderno p.6. ↩︎