Nem mesmo a tristeza de desfilar no primeiro carnaval do milênio sem Dona Neuma — sua primeira-dama que morreu no ano passado — tirou a garra da Mangueira. E o carnavalesco Max Lopes — que já deu um campeonato à verde-e-rosa, em 1984, com Yes, nós temos Braguinha — promete fazer a escola “arrebentar” ao contar a saga do povo fenício. De quebra, ainda perfumará o sambódromo com fragrâncias orientais durante todo o desfile. No enredo A seiva da vida são enfatizados o brilhantismo, a cultura, a harmonia e a beleza desse povo que criou o comércio, aventurando-se pelo mundo em seus barcos de cedro, saindo da terra de Canaã para levar seu conhecimento da Ásia Menor ao Ocidente. E que deixou marcas de uma nova civilização de paz.

Nos sete carros alegóricos da Mangueira, Max passeia pela Assíria e seus templos suntuosos, que inspiram o palácio que o rei Salomão construiu para presentear sua bela paixão negra, a rainha de Sabá. Mostra também a criação dos mercados no oriente, o canto, e a dança — com diversas bailarinas, exibindo-se na dança do ventre — até a chegada de turcos, libaneses e árabes ao Brasil, passando pelo Saara, no Rio. “Ali se instalaram os decendentes dos fenícios”, explica Max. Na imaginação do artista, como o cedro era de boa cepa, deu um fruto verde-e-rosa — a manga. Assim Max encerrará o desfile no carro com o nome do enredo, onde estará a velha-guarda, contando com d. Zica, viúva de Cartola e amiga de d. Neuma.

O que Max guarda a sete chaves é a exibição da comissão de frente, coreografada por Carlinhos de Jesus. Embora a escola não aposte muito em mulher nua, apresentará a modelo Cristina Maine, como Deusa da guerra e do amor, tomando banho em uma fonte no carro Inspiração assíria. “As baianas também estão bonitas e virão em duas alas. Serão 100 menininhas da Mangueira do Amanhã e outras 140 veteranas”, diz. Mas os “sais” serão mesmo para Paulo Zulu, no abre-alas, como deus fenício. Tem um time feminino da escola que já faz coro: “precisa de alguma fantasia”?1

  1. “O perfume verde-e-rosa”. JORNAL DO BRASIL (RJ) n.323, 25-2-01, DOMINGO p.35 ↩︎