D. Neuma, grande dama da Estação Primeira de Mangueira, matriarca do samba carioca, uma das mais importantes personalidades da cultura popular, referência sentimental das tradições culturais brasileiras. Aqueles que dividiram a sua intimidade são unânimes em afirmar que ela era dona de uma personalidade irreverente, que fazia uso demasiado de palavrões. “Uma espécie de Leila Diniz do Samba”. “Ela era uma mulher de uma inteligência extraordinária embora com pouca escolaridade. Nos anos 50, tinha uma escola pública na Mangueira, cujo índice de inadimplência era muito alto. Ao tomar conhecimento disto, D. Neuma tomou a iniciativa de levar alguns alunos para a sua casa e pôs-se a escrever inúmeros palavrões. Entre risos, eles leram e D. Neuma provou que os alunos sabiam ler. O problema era que os textos eram inadequados, distanciados de suas realidades. Conclusão digna de um Paulo Freire”. Mas atrás desta mulher extrovertida existia um comportamento puritano. Ainda muito jovem, D. Neuma ficou viúva de um homem só. Durante toda a sua vida guardou a memória deste marido, jamais casou-se ou manteve relacionamentos amorosos, preocupando-se em ser um exemplo moral para as filhas”. Nascida e criada na Mangueira, dona de brilho próprio, esta guerreira fez o seu caminho, síntese do morro e do asfalto. Filha de Saturnino, um dos fundadores da Estação Primeira. Neuma, além do mito, foi um símbolo da resistência cultural.