Pelo que mostraram no desfile de domingo a Estação Primeira de Mangueira e a Império Serrano são as mais sérias candidatas ao titulo de supercampeã, uma vez que mostraram muito mais que as outras, principalmente a primeira, que pôs o samba autêntico de morro na Avenida, enquanto a outra, ainda que bem, utilizou recursos antes usados pela Salgueiro para atrair os jurados.

Oziel Peçanha julgou bateria, melodia e harmonia; Danúbio Meneses Galvão, fantasias; Dalva Duarte, bandeira e comissão de frente; Joel Lopes, letra e enrêdo; Berta Rosanova, porta-bandeira e mestre-sala; Maurício Sherman, evolução e conjunto; Celita Vacani, alegorias; Darci Tecídio, Mário de Oliveira e Vera Lúcia Bertel julgaram desfile.

MANGUEIRA — Se o julgamento do desfile de escolas de samba dependesse do voto popular, sem dúvida alguma, a vencedora dêsse ano seria a Mangueira, Sua entrada na pista da Presidente Vargas parecia mais a partida para uma guerra, que, no caso, deveria ser ganha de qualquer maneira. A impressão que se teve foi a de que todo o morro de Mangueira tinha descido para ensinar samba no asfalto, principalmente porque a vibração dêsse samba já começava a desaparecer, fazendo com que os sonolentos já começassem a se entregar ao cansaço de 12 horas de desfile. Sua entra triunfal fêz muita gente chorar na arquibancada, inclusive Dona Arminda, viúva de Villa-Lobos, o grande homenageado da festa. As lágrimas do mestre-sala foram notadas, também, não se sabendo por que. Duas hipóteses são levantadas: a emoção com os aplausos ou a sua despedida dos desfiles de escola de samba, depois de mais de dez anos. Suas alas estavam impecáveis, desde a comissão de frente até a bateria mirim, que encerrou o desfile. O samba Exaltação a Villa-Lôbos, de Claudio e Jurandir, foi cantado por quase todos que assistiam ao desfile, e, por Dona Zica, mulher do veterano compositor da escola, Cartola, que, sempre com um sorriso nos lábios, talvez para esconder sua emoção, abria os braços à platéia, animando aos presentes. Mangueira deu uma demostração mais uma vez de autenticidade, demostrando como com fantasias de menor valor pode ganhar um carnaval, ao contrário de outras que apressentaram nada a não ser riqueza1.

  1. JORNAL DO BRASIL (RJ), “SAMBA É CAMPEÃO” 24-2-66 n.44, Cad.B p.6. ↩︎