Tantinho, o guardião da memória em verde e rosa
Tantinho

Tantinho nasceu em 1946, em Mangueira, na localidade de Santo Antônio, no ponto mais alto do morro, chamado Vacaria. Nessa ocasião, a Estação Primeira já existia há 17 anos e era uma importante referência cultural do morro. A mãe de Tantinho, conhecida como Dona Mendes, foi morar em Mangueira ainda criança e era baiana da Escola quando ele nasceu. Ela, como mais tarde faria o próprio Tantinho, vivia em Mangueira entre as casas de sua família e a dos pais de Neuma, de quem foi amiga. Antes de chegar à Mangueira, Dona Mendes vivia com a sua família no Borel, outra favela carioca. Já o pai de Tantinho, José Ferreira, era mineiro e não tinha maiores afinidades com as escolas de samba do morro. Tantinho parece saber ou querer falar menos sobre a história de vida de seu pai, que, segundo ele, era “um arruaceiro”. De uma maneira geral, as lembranças de infância de Tantinho remetem a um período muito pobre, porém feliz de sua vida. São lembranças fortemente relacionadas com a escola de samba Estação Primeira de Mangueira:

Minha infância na Mangueira foi uma infância legal, tranqüila, muito alegre. Até porque, a gente no morro, na favela, nessas comunidades mais carentes, a gente logo passa para a escola de samba. Nossa infância começa na escola de samba. E eu entrei para a bateria da Mangueira com seis anos. (…) Foi até porque minha mãe desfilava de baiana, aquela coisa… (…) A minha mãe foi para Mangueira ainda criança. Antes ela vivia no Borel, ali na Tijuca, não é? Aí eles foram morar na Mangueira. Acho que a Mangueira ainda estava bem despovoada, bem tranqüila… Ela foi criada na casa da Neuma também, a minha mãe. (…) Acredito que isso deve ter sido na década de 30. (…) Agora, por parte do meu pai, também, acho que por essa época, mas eles já vieram de Minas. Meus avós eram mineiros. (…) Minha mãe não, minha mãe era carioca. (…) E não sei, acho que ela e meu pai se encontraram lá pelo morro, aquelas coisas… (…) Os dois… [risos] Tinha aqueles bailes lá no Unidos de Mangueira, uma escola de samba em Mangueira, azul e rosa, chamada Unidos de Mangueira. Minha mãe dançava muito lá. Meu pai era meio brigão. Ficava por lá acabando com o baile, brigando… (…) Meu pai não admitia que uma dama recusasse ele. Se ela recusasse, ele acabava com o baile. (…) Ele era brigão, era arruaceiro. Ele com Geraldo Pereira faziam dupla de briga, para bater nos soldados, aquelas coisas. Minha infância foi assim, não é? Vendo esse tumulto todo, essa confusão… Mas meu negócio era sair na Mangueira. (…) Porque eu sou o primeiro filho, não é? (…) Éramos quatro, mas duas irmãs morreram. (…) As duas mais novas morreram. Ficamos eu e a mais velha, a Tiquinha. A Tiquinha está lá na Mangueira. (…) Nem estudar, estudávamos. Eu fui entrar para o colégio com dez anos. Aquelas dificuldades da época, não é? Se as pessoas não tivessem, assim, uma informação, não tivessem acesso a informação, essas coisas… Nas comunidades, as crianças nem estudavam

Antes de falar sobre a dificuldade que foi para ele estudar, Tantinho conta que teve uma doença séria quando criança. Sua mãe, buscando curá-lo, procurou, além de médicos, um centro espírita. Sua melhora é atribuída a um “tratamento” feito no centro, onde sua mãe teria sido alertada que ele ficaria bom, mas daria muito trabalho

Mas antes eu fui muito doente. Quando eu era criança, fui muito doente. (…) Até hoje eu não tenho uma explicação razoável para a coisa, mas eu tinha dificuldade para andar. (…) Eu não ficava em pé, não conseguia ficar em pé. (…) Aí aquela coisa… Carência de médico tremenda, de assistência, aquela coisa toda. Minha mãe me levava no Hospital Jesus, que era hospital de crianças. Ali é o maior hospital que existe, porque ali se trata das crianças mesmo. (…) Então eu fui tratado ali. Mas parece que eles não deram muita esperança à minha mãe de que eu me curasse. (…) Eu não sei se era um tipo de paralisia, porque tinha muita paralisia naquela época. De repente uma falta de vacina, alguma coisa. (…) Minha mãe fez lá umas… Andou em uns centros espíritas, aquelas coisas. E os médicos me desenganavam no hospital. Já nos centros eles afirmavam que eu ia ficar bom. Aquela briga… Minha mãe colocava o centro contra o médico: “Mas lá no centro eles falaram que ele vai ficar bom.” O médico falava: “O centro não sabe nada. O centro nada…” Aí levava no centro e falava: “Mas o sabido disse que ele não vai sobreviver…” Aí no centro eles falavam: “Sabido não nada…” [risos] (…) Sabido é o médico… Uma confusão. Mas eu fiquei bom, graças a Deus.
F.C. (Flávia Constant): Mas ficou bom de repente, ou você foi melhorando?
D.F. (Devani Ferreira, o Tantinho): Ah, eu fui… Sei lá. Minha mãe diz que foi no centro que eu fiquei bom. (…) Foi no centro, tratamento no centro. E aí também foi o terror, não é? Lá no centro falaram assim: “Olha, ele vai ficar bom, mas sai da frente… [risos] Quer que ele fique bom? Ele vai ficar bom, mas sai daí, depois não vem reclamar não.” Depois realmente minha mãe falava assim: “Eu não sei se seria melhor ter deixado morrer…” Aquela coisa de mãe, mas pô… (…) Eu fui o terror. Era uma loucura. E na Mangueira: tudo de ruim era eu que tinha feito. Era o terror. Tudo de ruim era o Tantinho. Porque eu tinha fama de arruaceiro, de levado. Quebravam vidro da janela dos outros, matavam os pombos, os gatos, não sei o quê… E eu tinha mania de matar gato para levar para a bateria, para fazer tamborim no carnaval. (…) Porque a gente, para sair na bateria, tinha que levar o gato. Levava o gato ou levava o couro. Aí levava o gato porque eles ficavam mais satisfeitos, porque eles faziam churrasco do gato. Tiravam o couro e o gato eles comiam. (…) Levava para o Delegado. Delegado, o Pão Duro… Turma que tinha lá no morro, que era responsável pelos garotos da bateria. (…) Então, eu fiquei com fama de gateiro do morro. (…) Brinquei muito lá na Mangueira. Eu era muito levado, fazia muita porcaria mesmo. Mas eu era querido. Eu era querido porque as porcarias que eu fazia eram coisas de criança mesmo. Mas eu era bom, era obediente. Eu obedecia aos mais velhos.

Tantinho demonstra em toda sua narrativa como ele era querido e bem acolhido em Mangueira, inclusive em momentos verdadeiramente dificeis como quando, por exemplo, faltava comida em sua casa:

Eu ficava entre minha casa, a casa da Neuma, a casa do Nelson Sargento… Eu ia nas casas onde tinha comida. Onde tinha comida eu estava. (…) Porque o rango era na casa do Alfredo Português – que era o pai de criação do Nelson Sargento -, na casa do Charuto, que era… Eu sempre estava na casa do pessoal que trabalhava na estiva. (…) Porque na casa do pessoal da estiva sempre tinha comida, muita comida. E lá em casa, como o rango era ruim à beça, não tinha… Era carente lá o negócio. Aí eu: “Ah, eu vou para a casa do Nelson Sargento.” Eu passava lá, comia lá… Ia na casa da Neuma, comia.. Comia na casa da Irene, mãe do falecido Licinho1 e do Lilico, mestre-sala. Nas casas onde tinha comida, eu estava sempre parado por ali. Hora do almoço ou da janta eu ficava rodando por lá para…

A família de Tantinho parece ter sido muito pobre, mesmo para o padrão da favela. Por isso, desde novo, ele teve que tentar conciliar o estudo com o trabalho e também, claro, com a Estação Primeira. Nesse processo, apesar de gostar de estudar e ser um excelente aluno, Tantinho acabou abandonando os estudos ao completar o ginásio. Trabalhou a vida inteira, até sua aposentadoria. Tantinho conta que, mesmo antes de começar a trabalhar com carteira assinada, ajudava sua mãe, que era lavadeira, nas tarefas domésticas. As lavadeiras da Mangueira tinham o costume de lavar as roupas em um tanque comunitário que ficava próximo ao Buraco Quente. Enquanto trabalhavam, elas cantavam os sambas tocados no morro. Tantinho conta que aprendeu muitos dos sambas antigos de Mangueira vendo sua mãe e as outras lavadeiras do morro trabalharem:

Eu entrei para escola com dez anos, não é? (…) Mas na escola eu era bom. Eu era muito inteligente. Eu era o melhor aluno do colégio. Mas era o mais levado também. Eu não fui expulso porque eu era bom aluno. (…) Eu trabalhava, sempre trabalhei, desde os dez anos de idade. (…) E mesmo antes de eu ir para a rua trabalhar mesmo, eu ajudava minha mãe. Minha mãe lavava roupa, não é? Para fora. E eu ia fazer comida para os irmãos, arrumava a casa, jogava a minha bola, fazia minhas encrencas, aquelas coisas, fazia minhas porcarias lá pelo morro. Mas eu fazia comida, levava para ela lá na cabine, onde elas lavavam roupas. Era um grupo de lavadeiras, não é? Dez, 15 mulheres lavando roupa ao mesmo tempo. (…) Era onde eu aprendia os sambas. Porque eu ficava lá ouvindo as lavadeiras cantarem e aprendia todo samba de Mangueira ali. (…) Com 14 anos, eu fui trabalhar de carteira assinada, na Cerâmica, que era a fábrica do presidente da Mangueira, o Roberto Paulino. (…) Fiquei cinco anos na fábrica. Aí cortinuei… Ele pagava o meu estudo… Acabou o primário, não é? Aí ginásio já era caro, só tinha particular. O Roberto Paulino pagou para eu fazer o ginásio, aquela coisa toda. (…) Eu completei o ginásio.2 Depois não estudei mais, porque… (…) Quando eu tinha 12 anos, já fui gravar umas coisas com o Jamelão. (…) O Jamelão escolhia os melhores ritmistas, garotos… E eu sempre gravava com ele, lá na Continental, na… Ás vezes ele ia se apresentar na Mayrink Veiga com o pessoal da Mangueira, eu ia. É, às vezes fazia um showzinho.

Tantinho, conforme já foi colocado, entra para a bateria da Estação Primeira aos seis anos de idade – segundo ele, porque sua mãe não tinha com quem deixa-lo para ela própria poder desfilar como baiana da Escola:

Eu fui para a Mangueira desfilar porque minha mãe não tinha com quem me deixar. Aí ela pediu ao Tinguinha, que era o diretor da ala da bateria, o fundador da bateria. Pediu ao seu Tinguinha para arrumar um jeito de eu… Porque ela queria sair na Mangueira, a Mangueira queria que ela saísse, mas ela não tinha com quem me deixar… Aquela confusão…

Foi da bateria até os 13 anos de idade, quando foi aprovado por Cartola para ingressar na concorrida ala de compositores da Estação Primeira. Isso graças à intermediação e ao incentivo de Neuma, como conta Tantinho:

Emilinha era uma garotinha que morava lá perto de casa e que eu gostava dela. [risos] (…) Com 11 para 12 anos, eu fiz um samba para a Emilinha. Eu ficava cantando aquele samba, não sei o quê. Um dia falei para a Neuma: “Pô, fiz um samba para a Emilinha.” Ela falou assim: “Esquece a Emilinha, volta a estudar. [risos] Pensa só na Emilinha.” Ela falou: “Mas canta o samba aí. Canta aí.” Eu cantei para ela e ela falou: “Vai cantar esse samba na quadra.” Eu falei: “Pô, Neuma, pô, espera aí…” [risos] (…) Eu já estava com 13 anos. Eu falei: “Ah, não vou cantar na quadra não.” “Vai cantar na quadra. Você gosta de cantar, não sei o quê.” Aí ela falou com o Cartola: “Cartola, ele está com um samba aí, quero que ele cante lá.” Cartola falou: “Ah, tudo bem, vai lá. Se for direito, se for legal, fica. [risos] Se não for, mais um, não sei o quê.” Aí eu cantei o samba e o Cartola gostou. A Mangueira ia desfilar em Brasília. (…) Ele falou: “Vamos cantar esse samba em Brasília.” (…) O Zagaia já tinha feito um outro samba. (…) Era recente a construção de Brasília, ainda estava meio inacabada, aquela coisa: chão de terra batida, não tinha asfalto, nada. E lá eu cantei o samba, uma farra. A Mangueira desfilou com o samba, eu conheci o Juscelino, aquela onda.3 Eu, garoto. Eu, com 13 anos, parecia que eu tinha oito, não é? Eu era pequenininho pra caramba. Aí: “Ah, mas esse garoto já fez samba?” “É, o samba é dele, não sei o quê, vai desfilar.” Aí me abraçou, me botou lá no palanque com ele. [risos] (…) Aí, fui embora, não é? A minha vida aí começou na Escola. (…) Com uns 14 anos já fui trabalhar com o Zé Kéti. Cheguei a tocar com a Elizeth Cardoso. Mais velho, fundaram Os Originais do Samba e me chamaram.

Apesar do reconhecimento alcançado no meio do samba quando ainda era bem novo, Tantinho conta que nunca largou um emprego fixo para se dedicar exclusivamente à música. Para ele, o samba foi uma atividade paralela até sua aposentadoria como técnico de laboratório da Funarte. Sua atuação como sambista da Estação Primeira, de certa forma, impulsionou sua carreira profissional:

Fiquei assim por essas coisas.. Mas eu notei que, naquela época, a música não prometia muito futuro, sabe? Era muito dificil. As pessoas falavam que eu cantava bem, aquela coisa. Eu fui para o Teatro Opinião, trabalhar no Rosa de Ouro… Mas eu ficava um pouco inseguro com essa coisa de hoje tem trabalho, amanhã não tem. (…) Naquela época, o cara ficava dois meses sem trabalhar. Eu falei: “Eu vou sair dessa.” Aí eu fui trabalhar. Eu nunca larguei o emprego fixo, eu nunca larguei. Eu fazia música como bico. Eu fui trabalhar no Jornal do Brasil, em 1969. Eu era contínuo. E aí, como eu era um cara que, graças a Deus, todo mundo sempre foi muito por mim, todo mundo sempre gostou… Lá no jornal não foi diferente. Os repórteres, fotógrafos, todo mundo parava na minha pra caramba: “Ah, cadê o Mangueira? Não sei o quê…” Aquela coisa: a Mangueira… Começaram a freqüentar a Mangueira comigo, eu levava eles para a Mangueira. Os fotógrafos do jornal, os repórteres iam comigo para a Mangueira. Não sei, iam com mais segurança, não é? Aproveitavam que eu era de lá, compositor, aquela coisa, iam comigo. O tempo passou e o Oldemário Touguinhó falou para mim: “Olha, vai querer ficar de contínuo toda vida? Procura um negócio aí, vê o que você quer fazer dentro do jornal que eu dou uma força para você.” Aí eu passei por vários setores do jornal, a linotipo… (…) Mas eu não gostei. (…) Mas quando ele me mostrou o setor de fotografia, o que era, como era: “Olha isso aqui é assim…” A sala escura, me mostrou os ampliadores, aquelas coisas… Eu nunca que sabia… Eu ia lá, levava as coisas e voltava. Aí eu falei: “Pô, é isso aqui que eu quero.” O negócio despertou logo meu interesse do caramba. (…) Me apaixonei pela fotografia. Sei lá, fiquei na fotografia 30 anos. (…) Quando eu fiquei mais ou menos conhecedor da fotografia, o Sérgio me propôs ir para um estúdio pequenininho, de um amigo dele. (…) Os caras do jornal falaram: “Ah, mas é bobagem, você sair do Jornal do Brasil para ir para…” Eu falei: “Ah cara, vou para lá. Aqui eu já acho que cheguei. Vou para lá.” Aí eu fui para lá e realmente… Eu aprendi realmente. E eu fui bom naquilo, eu fui bom. O pessoal falava que eu era bom. (…) Começaram a aparecer as propostas. Eu fui parar na Câmera Três, que era uma agência de fotografia famosa. Era do Cláudio Méier, que era um alemão famoso aí. De lá eu fui para a DPZ Propaganda. (…) Na DPZ eu fiquei por uns seis, sete anos. Aí um cara lá arrumou um cambalacho comigo, me mandaram embora. Da DPZ eu fui trabalhar em um outro jornal dos caras que fundaram o Pasquim, Tarso de Castro… Aqueles malucos todos, Jaguar, não sei o quê. (…) Eu já tinha me inscrito na Funarte há uns cinco anos. Estava aguardando ser chamado. Fiquei lá por dez, 12 anos… Na Funarte me aposentei, me aposentei na Funarte. (…) Aí a música era paralela. Eu ia, fazia um trabalho à noite, aquelas coisas. (…) Naquela época eu puxava samba na Mangueira. Eu tinha que estar no ensaio, porque eu que era o crooner oficial, depois do Jamelão. Jamelão viajava muito e deixava tudo para mim. Já aconteceu de, no carnaval, no desfile, ele não estar e eu ter que puxar o samba. (…) Então, lá no morro era essa encrenca, mas eu trabalhei muito. Eu fiz samba à beça. Eu cantava muito samba dos outros, mas cantava os meus também. Ganhei samba enredo… (…) 77 eu ganhei o samba enredo com o Jajá. Fiz sambas à beça na Mangueira. (…) Mas eu não era um cara muito dedicado ao samba, de lutar para me colocar. Eu deixava correr. Eu deixava mais por conta dos acontecimentos. Se tiver que acontecer, vai acontecer. Eu me preocupei sempre muito em trabalhar. Até porque a minha família dependia muito de mim, não é?

Conforme já foi colocado, o pai de Tantinho, José Ferreira, era, “um arruaceiro”. Ele se envolvia em brigas pelo morro, algumas, inclusive, com a polícia, e, segundo Tantinho, não gostava de trabalhar. Por uma dessas brigas, José Ferreira ficou preso muitos anos, deixando sua familia em uma situação econômica ainda mais dificil. Por essa instabilidade de seu pai, Tantinho, como filho mais velho, puxou para si a responsabilidade pelo sustento de sua família:

Minha mãe, pai, minhas irmãs, dependiam muito de mim. A minha mãe, porque quando eu fiz 12 anos, falei que ela não trabalhava mais. Ela não ia lavar mais roupas. (…) Eu falei: “Deixa comigo. Eu vou dar um jeito. A senhora já está muito cansada, não dá mais para lavar roupa, não sei o quê.” Aí eu não deixei mais ela lavar roupa.
F.C.: O seu pai era da Escola também, Tantinho?
D.F.: Ela era. Meu pai? Não. Meu pai não. Meu pai nunca se meteu em negócio de samba não. Ele era lá da Unidos de Mangueira, mas ele gostava de dançar, tocar calango, ele gostava de cantar (…) O negócio dele era o calango de Minas, ele improvisava era no calango. Eu falava: “Ah, pai, eu não vou nessa não. [risos] Tem a Mangueira aí, eu vou para o calango nada.” (…) Meu pai gostava de brigar com a policia à beça, batia na polícia. (…) Porque o meu pai era um… Meu pai era meio sem-vergonha, não gostava muito de trabalho. (…) Ele gostava de jogo, vivia de jogo. Jogarrontas, não sei o quê… Aí eu via minha mãe no sufoco, correndo pra lá e pra cá. Ela gostava de tomar a batida dela.. Como é? Capilé. [risos] E ele ainda brigava com ela. Aí eu: “Qual é? O senhor quer brigar ainda com a minha mãe? Ela trabalha. Tem o direto de tomar o capilé dela.” E ele aí queria bater em mim. Eu defendia a minha mãe e ele queria me bater. Era uma confusão. Não dava certo. (…) Meu pai era encrenqueiro pra caramba. Ele arrumou umas confusões lá, ficou preso uma porção de anos. Mas era porque ele brigava, era briga. Ele meteu a faca.. (…) Aí minha mãe tinha que trabalhar à beça e ainda tinha que levar coisa para ele lá na cadeia. Eu ia passar todo final de semana dentro de cadeia. (…) Todo final de semana eu estava na Frei Caneca. (…) Eu até gostava, davam presentes, aquelas coisas. Mas eu não achava aquilo muito legal não. [risos] Não era legal não.. (…) Eu falei: “Ah, eu vou trabalhar, vou trabalhar.” Falei: “Mãe, a senhora não vai trabalhar mais não.” (…) Eu fiquei para sustentar todo mundo. Assumi a família. Trabalhava pra caramba. Saía do colégio e ia limpar caixa de gordura, limpar não sei o quê, capinar jardim à noite. Aí tinha um coronel que a filha dele estudava comigo, mas ele não se conformava de eu tirar nota melhor que ela.

Tantinho interrompe a narrativa sobre seu pai para contar a história da filha desse coronel, que se chamava Ana Maria. Da mesma sala de Tantinho na escola, ela não conseguia tirar notas melhores que as dele. O coronel, inconformado, passa a convidar Tantinho para ir à sua casa realizar alguns serviços e ensinar a Ana Maria as lições da escola. Essa é uma história, conforme será demonstrado, impregnada de preconceitos raciais e classistas. Mas Tantinho a conta com muita leveza e senso de humor. Talvez fortalecido pela superioridade de seu desempenho escolar, conduz bem a situação, sabendo aproveitar as recompensas oferecidas pelo coronel para beneficiar sua família. Tantinho encerra essa história contando que era Neuma quem controlava suas notas na escola. Segundo ele, seu excelente boletim era motivo de orgulho para Neuma, e, de certa forma, uma espécie de compensação pelo desempenho escolar nada bom de suas filhas naturais:

Ele me chamava para capinar o jardim dele, mas era para eu ensinar a Ana Maria… Eu ia. Mas falei: “Pô, coronel, o senhor tem que me dar alguma coisa. Não dá eu ficar capinando aqui. Quando eu venho capinar, eu tenho que levar dinheiro para casa.” “Ah, tá. Eu vou te dar uma ajuda.” Aí dava uns rangos lá para casa. Comida que sobrava da casa dele. (…) Ele roubava do quartel. Levava latas de óleo, banha.. Ele me dava lá umas coisas. Mas sabe por que eu acho que ele capava no quartel aquilo? Porque ele só me dava embalagem grande. Aquelas embalagens coletivas de banha… Tinha lata de dez quilos de manteiga. Pô, dez quilos de manteiga? Vai comer dez quilos de manteiga em um mês? Ele tirava um quilo e eu levava para casa. Aí passamos a comer pão com manteiga. Pão com manteiga, inhame com manteiga… Ih, era a maior festa. (…) Ah, mas foi bom pra caramba. Saía bolo de aipim, não sei o quê. O rango melhorou, não é? E eu ficava lá trabalhando. Eu tinha que ajudar a Ana Maria, porque ele não se conformava… (…) Mas primeiro, ele foi lá no colégio, falou com a Dona Elza, a diretora: “Não admito que um neguinho do morro possa tirar nota melhor.” Perguntou para mim o que é que eu comia: [risos] “O que é que você come?” [risos] (…) “Ah, como o que tem. Quando tem.” “Seu pai faz o quê?” Eu falei: “O meu pai é pedreiro.” “Tua mãe?” “Minha mãe é lavadeira.” “Não pode. Como pode? Tem alguma coisa errada nesse colégio. Como é que pode um… Esse garoto não tem história na família dele, não sei o quê.” Ele me levava para a casa dele e começava a me entrevistar. [risos] (…) Eu não estudava nunca. Não pegava nos livros, não pegava nada… Mas eu era bom, Flávia. Eu era bom pra caramba. Eu não sei o que é que era. (…) A diretora falou assim para mim: (…) “Você já tem nota para passar. Não precisa fazer prova.” Eu falei para ela: “Mas eu quero fazer a prova,” (…) “Mas você já tem nota, Devani. Não precisa. Os outros, loucos para não fazerem a prova…” Eu falei: “Mas eu quero fazer a prova.” (…) A diretora, certamente de gozação, falou para mim sério… (…) “Olha, então vai prevalecer a nota que você tirar na prova.” Eu falei: “É dez!” Eu falei assim para ela: “É dez, diretora. Dez! Dez!” [risos] Ela falou assim: “Mas como ele é abusado…” (…) E tirei dez. Foi dez. (…) Ah, a diretora ficava louca comigo. [risos] Aí ela foi lá, pegou a minha ficha e mostrou para o coronel: “Olha aí. Olha a ficha dele aqui.” Naquela época tinha verde, amarelo, vermelho, não sei o quê. O meu boletim era verde, todo verde. Uma vez eu tirei oito. A menor nota que eu tirei foi 8.7. Eu falei: “Nunca mais eu tiro uma nota dessa.” (…) Porque a Neuma quase me bateu! (…) Eu morava próximo à casa dela. Para entrar na minha casa eu passava por dentro da casa da Neuma. (…) Ela foi criada com a minha mãe. (…) Então ela falou: “Você não pode tirar…” As meninas, a Cissi, a Chininha… As filhas dela, eu gozava à beça, tiravam amarelo e vermelho. [risos] O meu boletim ela queria que fosse todo verde. Aí eu: “Não tiro mais essa nota. Pode deixar. Nunca mais.”

Tantinho sai da Mangueira em 1977, aos 32 anos, após se casar com Dete, de quem era noivo há 17 anos. Toma essa decisão somente depois de seus pais terem morrido e suas irmãs casado. Ele parece ter esperado ficar livre das responsabilidades com sua família original para poder montar uma nova. Dete é neta do senhor Euclides Roberto dos Santos, dono da casa onde foi fundada a Estação Primeira de Mangueira.4 Segundo Tantinho, a decisão de morar fora da Mangueira foi a única solução encontrada para ele conseguir “sossegar” após o casamento:

Minha mãe morreu minhas irmãs casaram. Eu ajudei minhas irmãs a casarem, aquela coisa. Eu falei: “Agora acho que vou sossegar.” (…) Eu estava a fim de uma família. Porque minha mãe morreu e eu não gosto de passar, lavar.. Então, eu falei: “Ah, vou arrumar uma mulher. Dete, é agora.” (…) Fundaram a Mangueira na casa da Dete. Cartola, o avô dela, Saturnino, Maçu, seu Carlos Cachaça… Eles fundaram a Mangueira na casa dela. (…) 1928. Foi na casa do avô dela, o senhor Saturnino, que era a casa em que depois ela foi morar. (…) Eu casei e saí fora. Não quis ficar na Mangueira mais. (…) Para casar, eu falei: “Casar e mudar em Mangueira não”. Está louco. Não ia dar certo. (…) Eu ia ficar no meio do inferno ali. Como é que eu ia sossegar? Cheio de namorada minha, ex-namoradas lá… Elas já perturbavam a Dete. Quando ela ia ao samba, furavam ela com alfinete. (…) Ela fazia as unhas dos pés, botava sandália, elas pisavam na unha dela. Pô, não dava, não dava. (…) Era uma loucura aquilo ali. Mas eu resolvi sossegar. E quem acreditava que eu tinha sossegado? Até hoje eles não acreditam. Dizem que eu estou dando um tempo. [risos] Não estou dando um tempo. Já parei mesmo. Acabou, já era. (…) Tivemos três filhos. Nós temos quatro. Mas tivemos três. Uma é a minha neta.5

Tantinho conta que não lembra como ganhou seu apelido, mas diz que, provavelmerte, foi em função de sua baixa estatura:

Eu me conheci já com o apelido de Tantinho. Não sei se foi em casa ou se foi gozação de neguinho na Mangueira. [risos] Mas é Tantinho. Não sei honestamente. Isso aí eu não sei. Não sei se era pelo meu tamanho, não é? Eu era muito pequenininho. Era não, sou pequeno até hoje. Imagina eu com dois anos, três anos.. Devia ser bem… Quando eu tinha 28, 30 anos, nego achava que eu era menor. Polícia achava que eu era menor de idade. Pediam documento para eu entrar nos lugares. (…) Deve ser por isso.

Como será mostrado ao longo da dissertação, além de “Tantinho”, ele também é conhecido em Mangueira por outros apelidos como “Dé Cabeção” e “Cotico”.

Tantinho foi o mais jovem integrante da ala dos compositores da Estação Primeira, na qual ingressou em 1959, época em que Cartola ainda aprovava pessoalmente os novos compositores. Tantinho fala abertamente que sua relação com Cartola não era nada fácil e que, durante sua infância, ele o achava “muito chato”. Fala ainda do importante papel desempenhado por Neuma como apaziguadora dos conflitos que surgiam:

Acho que, até hoje, eu fui o compositor mais novo que entrou na ala. (…) Eu fui o mais novo da ala de compositores da Mangueira. E eu entrei no meio do Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Padeirinho, Xangô, Zagaia, não sei o quê… (…) Eu já andava meio abusando no meio deles. No partido-alto, aquela coisa. Porque eu sempre fui de partido-alto, então eu era meio abusado. Com relação a isso eu era meio entrão. Eu não me assustava com ninguém. (…) Senhor Aniceto se aborreceu comigo já, aquelas coisas. Mas não foi por falta de respeito a ele não. É porque ele achava que não podia um garoto cantar com ele, nunca tinha acontecido. E eu cantei e ele ficou assustado. Assustou, me deu mole – se assustou, me deu mole! [risos] Aí o Padeirinho falou para ele: “Eu te avisei que tinha um moleque lá que era danado.” E ele: “Ah, mas eu não canto mais com ele, não sei o que.” Não queria mais cantar comigo. (…) Antigamente, para o cara entrar na ala de compositores da Mangueira era ruim. Era o terror.
J.C. (José Constant): O Cartola aprovava pessoalmente.
D.F.: O Cartola… O Cartola é muito exigente, não é? (…) Ele era chato. [risos] Era muito chato. Eu, pelo menos, para mim. Hoje eu não diria que ele é um chato. Porque eu já compreendo. Mas quando eu era garoto, ele, com aquela idade, eu achava ele um chato. (…) Achava que ele era implicante. Ele ficava lá, não é? Aquela história que eu conto que ele chamava a polícia. Mas, hoje, até isso eu entendo. Antigamente eu não entendia e nem podia entender. Não podia… (…) A gente queria limpar a rua e ele chamava a polícia, aquelas coisas… Queria trabalhar, tirar areia da rua para arrumar um dinheiro. A intenção… Nós vivíamos atrás da grana, não é? [risos] Correndo atrás da grana. Onde havia chance de arrumar um dinheiro nós estávamos lá. E o Cartola não gostava. Ficava enchendo o saco, chamava a polícia. Mas também tinha umas coisas que a gente fazia que… Ele tinha a razão dele. As vezes o caminhão da feira passava lá e, pô, nós subíamos e jogávamos tudo para baixo. Ficavam dois, três em cima do caminhão jogando para baixo e dez lá embaixo recolhendo e entrando pelo Buraco Quente. Mas aquilo tudo era carência, falta de… Como é que nós íamos comer uma lingüiça Sadia? [risos] Como é que nós íamos comer um presunto? Um queijo? [risos] Roubando, pó. Ninguém tinha grana para comer queijo. Aí, o linguicinha passava… Linguiçinha era uma Romi Isetta que tinha… [risos] (…) Era uma roda só na frente. Quando passava, a gente jogava um tronco em frente a… (…) Aquilo batia na roda da frente, virava. Aí já viu. Aquilo virava de presunto e queijo em frente ao Buraco Quente. [risos] Pô, era uma festa. O Cartola está lá olhando… (…) Falava: “Ladrão! Cambadas de ladrão.” “Vai dormir, senhor Cartola. O senhor também fica aí…” Aí ele chamava a polícia, ligava para a polícia… Ia lá na Neuma chamar a polícia. A Neuma: “Não, aqui não. Aqui você não vai ligar para a polícia (…) Deixa os garotos, deixa os garotos. Meus meninos. Deixa eles.” Ele ficava pau da vida. Por isso que ele e a Neuma nunca se deram bem. (…) Depois, mais velho, eu comecei a compreendê-lo. Ele aí até pediu para eu cantar música dele na Mangueira. Eu cantei. (…) Tempos idos, não é? Porque Tempos idos é um samba enredo. (…) O enredo foi o samba. (…) Depois virou sucesso, mas esse samba é um samba enredo.6 (…) Já tínhamos essa pendenga, eu e ele, aí ele falou para a Neuma: “Pergunta ao Tantinho se ele quer cantar o Tempos idos, samba enredo que eu fiz, não sei o quê…” A Neuma: “Ah, você fica brigando com ele, chamando a polícia… Agora, não sei não. Vou falar com ele.” (…) Falei a Neuma: “Ah, não sei não… Não sei se vou cantar.” Depois eu fui lá e falei com ele. (…) Ele estava no Buraco Quente tomando o conhaque dele e eu falei com ele. Eu é que fui falar com ele. Falei: “Ô, seu Cartola, a Neuma disse que o senhor quer falar comigo.” “É, estava pensando em você para puxar o meu samba porque eu gosto muito de você cantando. E você não está concorrendo, não é? O que é que você acha? O samba é meu e do Carlos Cachaça.” Ele sabia que eu gostava do seu Carlos à beça. (…) “O Carlos achou legal você”. Falei: “É, seu Cartola, por que não? Vamos lá. Eu canto. O senhor me dá a fita que eu canto.” Aí: “Vamos lá em casa, não sei o quê…” Falei para ele assim: “Olha, só assim eu vou na casa do senhor, porque o senhor nunca me convidou para entrar na sua casa. Pelo menos hoje eu vou entrar.” (…) Aí ele falou: “Vamos lá, não sei o quê. Realmente vai ser uma chance de você ir lá em casa.” Aí tudo bem. Fomos. Aí acabou dali para frente não teve mais… (…)
J.C.: Mas vocês chamavam o homem de nariz de peneira, não é Tantinho? (…)
D.F.: É. A gente chamava ele de nariz de peneira. Porque eu ficava irritado com ele e ele tinha… Antes de operar, ele tinha aqueles furos no nariz.7 Aí eu chamava ele de nariz de peneira. Ele falava com a Neuma: “Mas ele me chama de nariz de peneira.” A Neuma: “Pára de encarnar nele. Você também não deixa o garoto em paz.” “Mas ele passa lá, eu estou bebendo, ele fala: ‘Ô Cartola, está bebendo cachaça?’ E o que é que tem que eu estou bebendo a minha cachaça?” “Ué, você perturba ele de um jeito e ele te perturba de outro…” Depois isso acabou. (…) Fui crescendo, não é? Isso é muito chato e eu tenho que respeitá-lo porque ele é mais velho, essas coisas. E ele é um.. Pó, um ícone na Mangueira, não é?

Esses foram os trechos mais pregnantes da narrativa de história de vida de Tantinho. Percebe-se que sua trajetória é pontuada por acontecimentos e vivências que lhe “autorizam” falar em nome da Mangueira e, de certa forma, em nome de uma realidade das favelas cariocas distinta da que hoje predomina pela questão da violência. Atualmente, principalmente por intermédio da mídia, as favelas, via de regra, são noticiadas como um cenário de miséria e extrema violência8.

  1. Licinho foi amigo de infância de Tantinho e seu grande parceiro nas rodas de partido-alto. Licinho era irmão de Lilico, que foi mestre-sala da Estação Primeira de Mangueira. Roberto Paulino fala de Lilico em seu livro: “cria da escola e de Delegado, veio Lilico, nascido e criado na Mangueira, filho de Irene, uma querida e saudosa pastora, moradora do Largo do Sossego. (…) Lilico quase não poderia ter sido mestre-sala. Quando tinha oito/nove anos, brincando no morro, caiu com o joelho sobre um fundo de garrafa quebrado. Fez um corte muito feio no joelho e, no Souza Aguiar, queriam amputar-lhe a perna. Usei algumas amizades que tinha no hospital e os médicos resolveram tentar uma cirurgia reparadora. Tão bem feita que Lilico chegou a mestra-sala, arrancando várias notas dez. Hoje, Lilico abandonou o samba, quando ainda estava no auge, para se dedicar a Jesus: é pastor de uma igreja evangélica, bem no pé do morro da Mangueira” (PAULINO R, 2003: 119). ↩︎
  2. Roberto Paulino se refere a Tantinho com muita admiração e carinho em seu livro Do Country Club à Mangueira: “[Tantinho] foi (…) o mais moço pai de familia que conheci. Seu pai morreu quando ele tinha apenas 14 anos e Tantinho ficou responsável pelo sustento da mãe e de uma irmã menor. Ele estudava – estava no ginasial — e não queria de jeito algum deixar a escola. Consegui para ele um emprego em que pudesse continuar a frequentar o colégio e estudar durante as horas de trabalho. Ele ficava na portaria da Cerâmica, como recepcionista e, assim, podia fazer deveres de casa e preparar lições. O que mais me impressionava nele, além de seu senso de responsabilidade com a família, era a vontade que tinha de ir em frente na vida. Era um homem feito aos 14 anos” (PAULINO R. , 167- 148). ↩︎
  3. Tantinho se refere aqui ao presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961). A ida da Estação Primeira de Mangueira a Brasília aconteceu em 1960. O samba composto por Tantinho e apresentando nessa ocasião chama-se “Com Emília em Brasília” (FLÓRIDO, 2005: 30). ↩︎
  4. A Estação Primeira de Mangueira foi fundada na casa de Euclides Roberto dos Santos, na travessa Saião Lobato, número 21, no Buraco Quente (SILVA & OLIVEIRA FILHO, 2003: 55). Euclides era casado com uma mulher conhecida como .Joana Velha e pai de João Cocada e Aurora. João Cocada era ao pai de Dete. Segundo Roberto Paulino, João Cocada era “um cara muito respeitado, dono de uma tendinha [na favela do Esqueleto] e com fama de valente” (PAULINO Rs, 2003: 169). ↩︎
  5. Tantinho teve um filho com uma de suas namoradas na Mangueira. Esse filho mais tarde teve uma filha e acabou morto por pessoas envolvidas com o tráfico de drogas. Tantinho, junto com sua mulher Dete, resolveu criar sua neta como filha. ↩︎
  6. No inicio de 1961, Roberto Paulino, diretor da Cerâmica Brasileira, era também o presidente da Estação Primeira de Mangueira. Nessa época Cartola estava afastado da Escola e foi feito um movimento para ele voltar. Ele concordou em fazer um samba enredo para aquele ano, junto com Carlos Cachaça. Fizeram Tempos idos, um samba que contava a história das escolas de samba. O samba, que perdeu na quadra, ficando em terceiro lugar. (SILVA & OLIVEIRA FILHO, 2003: 176 e 177). ↩︎
  7. Cartola apresentava uma deformação no nariz, conseqüência final de uma doença benigna denominada rosácea e que a ciência chama de rinofima. Cartola realizou uma cirurgia plástica de correção no nariz em 1964. Na cirurgia foi retirado o tecido hipertrofiado (semelhante a uma couve-flor), substituído por um tecido são. (SILVA & OLIVEIRA FILHO, 2003: 192). ↩︎
  8. CONSTANT, Flávia Martins. Tantinho, memória em verde e rosa: Estudo do Processo de Construção de uma Memória da Favela da Mangueira. Orientador: Verena Alberti. 225 p. Dissertação de Mestrado (Pós Gradução em História Política, Bens Culturais e Projetos Sociais) – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2007. ↩︎