Durante três horas entre copos de chope e garfadas no bacalhau do Adegão Português, o presidente da Mangueira, Roberto Firmino, foi entrevistado por quatro mangueirenses confessos — mas nem por isso piedosos. Firmino falou de sua vida, da sua infância no Buraco Quente e de seus planos para o futuro.

Roberto Firmino abre o jogo: manter as tradições, sim, mas com os olhos no futuro
Roberto Firmino abre o jogo: manter as tradições, sim, mas com os olhos no futuro / Octales Gonçalves – Revista MANGUEIRA CARNAVAL 94

Por Sérgio Cabral

Roberto Firmino é um cidadão tão discreto que as revelações sobre o seu passado na Mangueira e sobre as suas realizações na presidência da Escola de Samba Estação Primeira surpreenderam até alguns dos seus entrevistadores. Trata-se de um presidente do gênero daquele jogador de futebol que cobra o escanteio e corre para cabecear. É comandante e soldado, um líder e um operário. É enfim um camarada disposto a fazer qualquer coisa pela sua Mangueira. Mas, no jeito dos mineiros, trabalhando em silêncio. Vedetismo não é com ele, mas, em matéria de paixão pelo escola e pela comunidade mangueirense, ninguém supera o presidente Roberto Firmino, um personagem de coração verde e rosa. Dias antes do carnaval, Roberto Firmino deu uma entrevista para a Revista Mangueira, entre copos de chope e garfadas no bacalhau do restaurante Adegão Português. Participaram como entrevistadores Hermínio Bello de Carvalho, José Maria Monteiro, Osvaldo Marrins e o autor deste texto. A seguir, a entrevista:

SÉRGIO CABRAL — Sendo você nascido e criado na Mangueira, gostaria que começasse falando das suas primeira lembranças do morro.

ROBERTO FIRMINOMe lembro muito da Ala dos Periquitos, quando eu era garoto. Me lembro também da minha mãe com a roupa da baiana e eu com aquela fantasia que os meninos usavam e que a gente chamava de pijama russo. A criançada não desfilava, mas a gente ficava vestido de verde e rosa no Buraco Quente. Naquela época, a meninada brincava um pouquinho e ia dormir cedo. Não era como agora. Minha mãe, sim, desfilava na Ala das Baiana. Era a famosa Encarnação da Mangueira. se alguém perguntasse pela Maria da Conceição Silva, ninguém conhecia. Mas se falasse em Encarnação, todo mundo sabia quem era.

SÉRGIO — E seu pai?

ROBERTOMeu pai era o Itagiba. Aliás, hoje, na Mangueira, temos o Beco do Itagiba, porque meu pai foi uma pessoa boa e muito considerada dentro do morro. Ele tinha uma quitanda ali no 30, no Largo da Glória. E eu tenho orgulho de dizer que tomava conta da barraca de meu pai.

HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO — Quais eram os produtos vendidos na barraca de seu pai?

ROBERTOEram frutas, legumes e verduras, além de uma batidinha muito gostosa, uma batida de limão esperta que ele fazia muito bem.

HERMÍNIO — Qual era a relação de seu pai com a escola de samba?

ROBERTOMeu pai não era sambista. O que ele gostava mesmo era do Fluminense. Era um tricolor doente que não perdia um jogo. Ele me levava para ver o jogo do Fluminense na Álvaro Chaves, mas não adiantou nada. Sou mesmo flamenguista doente.

HERMÍNIO — Havia mais alguém de samba na sua família?

ROBERTONão, era só a minha mãe mesmo. Depois, fui eu. Desde que me entendo por gente, me vejo na casa da Neuma. Ajudei muito seu Alcides a fazer aquele leite de onça que ficou famoso. O pessoal comprava o litro. Todo sábado, eu estava lá, ajudando na produção do leite de onça. Depois, era um porre danado da rapaziada.

“São coisas boas da vida / Que jamais esquecerei / Vou falar / Você irá concordar / se não existisse a Neuma / Teriam que inventar”. Tinha 22 anos quando fiz esse samba.

HERMÍNIO — Sei que você fez um samba na casa da Neuma. Como era esse samba?

ROBERTOVocê conhece o palavreado famoso da Neuma, não conhece? A minha primeira esposa a Gilda, ouviu aquilo e comentava: “Essa Neuma não existe”. Então, eu fiz um samba: “A casa da Neuma / É o quartel general / de toda turma do samba / O pagode é legal / Momentos felizes / Na casa da Neuma passei / São coisas boas da vida / Que jamais esqueceri / Vou falar / Você irá concordar / se não existisse a Neuma / Teriam que inventar”. Eu devia ter uns 22 anos quando fiz esse samba.

HERMÍNIO — Com quantos anos você começou a ajudar seu Alcides a fazer o famoso leite de onça da Mangueira?

ROBERTO13 anos. Isso mesmo: 13 anos. Foi em 1954 e eu nasci em 1941, é só fazer as contas. Vinha muita gente pra Mangueira naquela época. O Grande Otelo, por exemplo, não saia daqui. O Nelson Cavaquinho não morava no morro, mas era como se morasse. Quando ele chegava, era aquele porre homérico. A gente ia cedo para a quadra da escola. Quando enchia, a gente ia pra casa da Neuma. A Chininha, filha da Neuma e minha comadre, era presidente da ala dos Impossíveis e comprava cerveja pra gente vender e fazer fundo para a ala. Chininha botava tudo para gelar e, quando chegava a hora certa, a gente começava a beber. Ás três horas da manhã, mais ou menos, a gente pegava as panelas da Neuma e começava um pagode. Aquilo ia até de manhã, sem a gente sair da cozinha da Neuma. Olha eu tenho a Neuma como a minha segunda mãe.

SÉRGIO — Você morava onde na Mangueira?

ROBERTONo célebre Buraco Quente.

HERMÍNIO — Então, você viu o florescimento da birosca da Efigênia.

ROBERTOClaro, eu morava perto. A casa dos meus pais era quase do lado. Mas meus pais não se davam com dona Efigênia. Não foi nada demais. Eras aquelas besteiras que acontecem entre vizinhos. Uma coisa eu me lembro bem do bar da dona Efigênia é que ela não permitia que se cuspisse no chão. Também era proibida qualquer cantoria.

SÉRGIO — Ela tinha uma tabuleta na parede com quadrinha: “Moço educado / Não cospe no chão / Não pede fiado / Nem diz palavrão”.

ROBERTOSe cuspissem no chão, ela ficava uma fera.

HERMÍNIO — E Nair Pequeno?

Aquela advertência do Cartola me servia como um incentivo. Fiz a Ala dos Periquitos a mais eficiênte da Escola.

ROBERTOConheci muito também. Estou com 53 anos de idade e posso dizer que conheci todas as figuras famosas da Mangueira. Para vocês terem uma idéia, falei que, na minha infância, conheci muito o pessoal da Ala dos Periquitos, não foi? Pois, em 1962, acabei presidente da Ala dos Periquitos. Um dia, o Cartola me chamou na casa dele e me advertiu: “Roberto, esse seu Periquito não está com nada”. Aquilo me serviu como incentivo. Na Mangueira, havia três alas técnicas: Periquitos, Boêmios e Só Para Quem Pode. Mas fiz da Ala dos Periquitos a mais eficiênte da Mangueira. Tudo por causa daquela crítica ao vivo e a cores que sofri do Cartola. Posso dizer que um dos motivos que me levaram a ser presidente da Mangueira foi a minha atuação na Ala dos Periquitos.

JOSÉ MARIA MONTEIRO — Eu tenho orgulho de pertencer à Ala dos Periquitos. Mas todo mundo sabe que, atualmente, para se manter uma ala técnica como ela, é muito difícil. Como é que você vê o futuro da Ala dos Periquitos nas mãos de Jorge Cara Preta?

ROBERTOEu tenho Jorge Cara Preta na conta de um irmão. Nós somos amigos há 30 anos. Conheço o Jorge desde que ingressei na briosa Polícia Militar do Rio de Janeiro e o levei para a Mangueira. Durante 20 anos, foi chefe de segurança da Mangueira. Um orgulho que tenho é que, até hoje, a melhor portaria da Mangueira era a que estava sob o meu comando e Jorge Cara Preta era o meu braço direito.

SÉRGIO — Você já ocupou outros cargos na diretoria da Mangueira?

ROBERTODepois de adulto, atuei em quase todas as diretoriais. Trabalhei nas diretorias de Djalma Santos, do Ed Miranda, Percival Pires, fui segundo diretor de harmonia no tempo do Carlinhos Dória, enfim, já trabalhei muito pela Mangueira.

OSVALDO MARTINS — Queria que você recordasse das velhas quadras da Mangueira. Como era primeira que você conheceu?

ROBERTOQuando eu tinha nove anos, dez anos existia a Malha, no Buraco Quente, no lado esquerdo de quem entra. Havia os bailes lá e as crianças não podiam entrar, porque seu Chico Porrão dava cascudo na gente!

SÉRGIO — Então, aproveita e fala um pouco de Chico Porrão, que, durante muito tempo, foi o sócio número um da Mangueira.

ROBERTOEle era o diretor da Harmonia. Me lembro muito dele por causa dos cascudos. Eras cascudos que doíam pra chuchu. Chegava a dar gosto de sangue na boca. Ele era uma pessoa correta e dura. Gostava que tudo corresse direito. Nas crianças, eras cascudos; nos mais velhos, ele batia com uma vara. Eu me dou muito bem com as filhas dele, principalmente com a Léia, que é minha conselheira, atualmente.

JOSÉ MARIA — A Mangueira prima pela qualidade dos seus frequentadores. Tanto que hoje dispõe de um grupo numeroso que cuida da disciplina. É importante acentuar a palavra disciplina, porque não se trata de segurança. Por isso, gostaria que você falasse do tempo em que comandou a portaria. Era um trabalho muito difícil?

ROBERTOEra um trabalho duro. De vez em quando, eu tinha que enfrentar algumas encrencas. Ás vezes, aparecia um camarada sem a carteira e sem o recibo e eu o mandava para o local da compra de ingressos. E ele dizia: “Se fosse fulano (um valente do morro), você não falava assim”. resultado: quando aparecia um valente, eu mostrava e revólver e dizia: “O que você tem eu também tenho”. Modéstia à parte, consegui disciplinar. Esses problemas só aconteceram até o terceiro ano em que comandei a portaria. Depois, ficou tudo calmo. Acabava o samba, a gente ia pra dentro do morro para beber e cantar sambas. Não tinha problema. Na verdade, antigamente, havia malandro; não havia bandido.

SÉRGIO — E, quando havia, eles respeitavam os frequentadores da escola e os moradores do morro.

ROBERTOIsso mesmo. Havia mais respeito.

OSVALDO — A Estação Primeira nunca teve dono. Aqui, as diretorias acabam o mandato, são realizadas as eleições e nova diretoria passa a conduzir a escola. A que você atribui essa independência da Mangueira?

ROBERTOA cabeça do mangueirense é assim. Nós aprendemos que a Mangueira é nossa. Nascico e criado no morro, sempre soube e disse: a Mangueira é nossa. Você vê: o pessoal de antigamente, Cartola, Carlos Cachaça e outros mais, não tinha dinheiro, mas eles fizeram a Mangueira forte. A escola vem aos trancos e barrancos, todo mundo sabe disso. Quando assumi a presidência da escola, a Mangueira só tinha mesmo nome. Mais nada. Passamos apertos financeiros tão difíceis que, nós, diretores, tivemos de botar a mão no bolso para pagar a conta de luz. Este ano, felizmenete, estamos bem. Mas tem gente, como o Amauri, que é uma das pessoas que mais trabalham pela escola dizendo que assim não tem graça. Bom mesmo é enfrentar aqueles problemas todos. O orgulho do mangueirense é dizer que a Mangueira não tem dono.

HERMÍNIO — A Mangueira, de fato, caminha para a sua independência financeira. Há quem dia que, por causa disso, ela corre o risco de perder a sua autenticidade. O que você acha disso?

ROBERTOSempre ouvi dizer que a Mangueira é uma escola autêntica. Mas tem uma coisa: se não acompanharmos a evolução das coisas, nós somos burros. Você vê, por exemplo, as alegorias. As outras escolas estão apresentando carros gigantescos. A Mangueira tem de acompanhar. As outras saem de lamê, starss etc. A Mangueira não pode apresentar-se com papel crepom, como antigamente.

SÉRGIO — Mesmo porque tradição não é atraso.

ROBERTONão é. Tudo o que a Velha Guarda me pede eu atendo. Mas é verdade também que tudo que eu peço à Velha Guarda ela me atende.

JOSÉ MARIA — Você é um presidente moderno. Construiu os camarotes na quadra, remodelou o barracão etc… mas você é também o camarada que puxa a cobrinha das pastoras na quadra e canta o samba-enredo.

ROBERTOIsso é o meu espírito de sambista. Quando eu tinha 18 anos, a moda era o rock. Havia até aquele programa da rádio Mayrink Veiga: “Hoje é dia de rock”, em que o pessoal da minha idade ia prá lá pra fazer música. Sabe o que eu fazia? Era um pandeirista do conjunto dentro da velha sede da Mangueira, aquela sede que, atualmente, é a Associação de Moradores. Nós fazíamos um programa de calouros e eu era o pandeirista do conjunto.

Vou criar a Mangoteca, para registrar a memória da Escola em vídeo. De cara, são 500 anos de samba.

HERMÍNIO — A Mangueira tem uma história que é motivo de orgulho para todos nós. Por aqui passaram alguns dos maiores nomes da história do samba. Eu quero saber o que você pretende fazer pela memória da Mangueira.

ROBERTOUm dia, eu nem era presidente da escola, vi na TV Educativa um programa em homenagem a Cartola que, aliás, foi feito por você mesmo. Lá estavam Padeirinho, Jorge Zagaia, todo mundo. Gravei o programa e disse para mim mesmo: no dia em que for presidente da Mangueira, vou criar a Mangoteca. O que é a Mangoteca? É pegar gente como Neuma, Zica, Jamelão, Carlos Cachaça, Mocinha e Delegado e promover uma roda de samba, que pode ser aos sábados, dia da Velha Guarda, e entrevistá-los e gravar as entrevistas. Daqui a 20 anos, qualquer um poderá ouvir essas entrevistas. Vou fazer todo o esforço para, ainda este ano, comprar todo o equipamento de gravação. Mas tem que ser uma coisa boa, com cameras de boa qualidade, tudo direitinho, para que a memória da Mangueira seja preservada em vídeo. Se a gente reunir esse pessoal para uma gravação, a Mangoteca já vai começar com mais de 500 anos de samba. Uma coisa que pretendo fazer também é percorrer as televisões e pedir que elas nos cedam todo o material que dispõem sobre a Mangueira. Vou fazer essa Mangoteca se Deus quiser.

JOSÉ MARIA — Administrar a Mangueira é isso. É cuidar da sua memória e, ao mesmo tempo, fazer as obras que você fez. Além do barracão e dos camarotes, você mexeu na quadra, pintando tudo, fazendo banheiros confortáveis etc.

ROBERTOOlha, quando assumimos a Mangueira, a Gal Costa fez um show aqui com o violonista Marco Pereira que, na época, era o marido dela. Dias depois, ela veio almoçar na sede. Lá pelas tantas, alguém que estava com ela avisou: “A Gal Costa quer ir ao banheiro”. Morri de vergonha. A gente não tinha um banheiro digno de uma Gal Costa. A primeira coisa que fiz depois, foi construir uma espécie de suíte no gabinete da presidência, com um banheiro decente. Quando a Gal voltou a Mangueira, comuniquei a ela: “esta aqui é a suite Gal Costa”. Ela caiu na gargalhada. No barracão foi a mesma coisa. Há dois anos que não saio do barracão. De maneira que conheci muito bem o banheiro de lá, pois estava sempre usando. Era um banheiro velho, caindo aos pedaços. Pior do que o pior banheiro de qualquer barraco da favela.

SÉRGIO — Como você se tornou presidente da Mangueira?

ROBERTONunca sonhei ser presidente da Mangueira, pois sabia que a responsabilidade é muito grande. Mas, vamos lá: a Mangueira tirou um 13º, um 12º e um 6º lugar. Quando chegou a eleição para escolher o substituto do Zé Ananias, considerei os candidatos muito fracos. Modéstia à parte, eu sabia que tinha mais capacidade. Até que um dia um dos candidatos me pediu apoio. Naquele momento, dei uma resposta que nem sei daonde veio: “Não posso apoiar você porque eu também sou candidato”. Me lancei assim, — eu e Deus, sem apoio de ninguém. Sei que, daquele dia em diante, passei a ser procurado pelas pessoas: “Você é canditado? estou contigo”. Era uma atrás da outra. Pensei comigo mesmo: Vai dar pé. E começei a campanha. Ia para o Buraco Quente, depois do trabalho, e ficava lá tomando cerveja com a rapaziada. Ainda assim, tentei um acordo. Como éramos seis candidatos, fizemos uma reunião e fui logo dizendo que me considerava o melhor candidato, mas que estava disposto a encontrar uma solução que unisse a Mangueira toda. Queria o melhor para a Mangueira. O Julinho Matos, grande carnavalesco da escola, abriu mão de sua candidatura e passou a me apoiar. Aliás, faço questão de dizer que Comprido é um grande mangueirense. A gente discutiu muito na época da campanha, por causa dos estatutos da escola…

JOSÉ MARIA — … aliás, por que você é conhecido como Senhor Estatuto?

ROBERTO — Eu ia té falar nisso. Quem inventou esse apelido foi o Elisio Dória, na época em que era presidente. Muitas vezes, quando ele resolvia adotar determinadas atitudes, eu impedia, lembrando de que estava desrespeitando os nossos estatutos. Prezo muito os estatutos.

SÉRGIO — Como dizia Rui Barbosa, fora da lei não há salvação.

ROBERTOÉ isso. É a legalidade das coisas. Temos um documento para nos reger. Isso é bom até para dar credibilidade ao que vamos fazer. Por exemplo: como desejava arranjar um jeito de facilitar as coisas para o pessoal do morro desfilar na escola, criei nos estatutos a figura do sócio comunitário. O nome está dizendo: é uma categoria social para os componentes da comunidade mangueirense. Com isso, mais de 500 pessoas do morro puderam desfilar no Carnaval passado, com fantasias que a própria escola deu a elas. Isso me dá uma grande alegria. Nos ensaios técnicos na quadra, o que aconteceu? A parte mais quente é exatamente a dos sócios cominitários.

HERMÍNIO — Poderia ser feito um disco com uma coletânea de sambas de terreiro da Mangueira. Esse disco mostraria aos novos compositores a riqueza que a Mangueira produziu em matéria de sambas.

SÉRGIO — A Mangueira tem um patrimônio fantástico. A maior pastora da escola que conheci, por exemplo, é a Nininha.

As igrejas estão tirando muita gente do samba. O Lilico já é quase pastor.

ROBERTOMas a Nininha não está mais no samba. Ela agora pertence a uma igreja e não quer saber de samba.

SÉRGIO — Meu Deus do céu!

ROBERTO — Vocês sabem que as igrejas estão tirando muita gente do samba. Na Mangueira, a igreja é quase ao lado da quadra. O Lilico já é quase um pastor. Quando eu era candidato a presidente, fugia do Lilico como o diabo da cruz.

OSVALDO — A imagem é boa.

ROBERTOO Lilico me agarrava na frente da quadra e me dizia com a boca no meu ouvido: “Roberto, você não pode concorrer. Isso é coisa do diabo. Estou orando para você perder.”

SÉRGIO — Para encerrar, gostaria que você falasse de Jamelão.

ROBERTOMe dou muito bem com ele. É só falar a hora e o local que ele aparece. Ele atende a tudo que peço. Pedi para gravar o Globeleza e ele foi. Me dou muito bem com ele. Noutro dia mesmo, me telefonou para avisar que estava viajando para o exterior. Quer dizer: o grande Jamelão tem a preocupação de me dar satisfação. Gosto muito do Jamelão, que é uma glória da nossa Mangueira. Quando vi Jamelão cantando no show da Mangueira, no Paladium, em São paulo, chorei. Que maravilha!1

  1. CABRAL, Sérgio. “Um presidente Verde e Rosa”. Revista MANGUEIRA CARNAVAL 1994 – Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu. p. 6 a 10. ↩︎