Para carnaval de 1989, apresentei o enredo TRINCA DE REIS, homenageando os três maiores homens da noite carioca. Quero deixar registrado que esse tema já havia sido motivo de conversas entre mim e meu irmão, havíamos pensado muito sobre esse carnaval. A Mangueira, todos sabemos é a Rainha da Noite e do Samba, a coroa simboliza sua magestade, nada melhor do que essa Rainha fazer a corte aos nossos Reis. Debatemos, eu e a diretoria, amplamente com a comunidade, e nosso enredo escolhido deseja passar na avenida a alegria da noite dessa Cidade Maravilhosa. Enredo aceito, iniciamos nossos trabalhos cujo ponto alto será o desfile na Passarela do Samba.1

TEMÁTICA DA MANGUEIRA

O G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA apresenta o enredo idealizado por J. Ramalhete a fim de homenagear os “Reis da Noite” e desenvolvido pelo artista plástico e carnavalesco Julio Mattos:

TRINCA DE REIS

A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro é conhecida muldialmente pelos seus encantos e belezas naturais, porém a noite carioca com suas casas noturnas, pagodes e sambas complementam o fascínio de brasileiros e estrangeiros por este canto de terra que se espreme entre o mar e a montanha. A noite carioca e o turismo muito devem a estes três homens que Mangueira vai mostrar na Passarela do Samba formando a TRINCA DE REIS.

O primeira da Trinca é Walter Pinto que na década de quarenta com sua companhia de peças teatrais desenvolveu no Rio o famoso TEATRO DE REVISTAS. Filho de M. Pinto das grandes produções era, entretanto, guarda-livros (como se denominava contador na época), mas o acaso ingrato (morte do irmão que substituia o pai) fez com que ele assumisse a companhia, e foi um sucesso. Com férrea disciplina, moraliza o teatro de revistas e estréia sua primeira revista em dezembro de 1940 no Teatro Recreio. Investia muito, sapatilhas, roupas e cenários comprados no exterior, maestros como Eliezar de Carvalho, Osvaldo Barbosa, Leo Perachi e Villa Lobos compunham e faziam arranjos para sua companhia, sem contar com os músicos, todos do Teatro Municipal.

O primeira da Trinca é Walter Pinto que na década de quarenta com sua companhia de peças teatrais desenvolveu no Rio o famoso TEATRO DE REVISTAS. Filho de M. Pinto das grandes produções era, entretanto, guarda-livros (como se denominava contador na época), mas o acaso ingrato (morte do irmão que substituia o pai) fez com que ele assumisse a companhia, e foi um sucesso. Com férrea disciplina, moraliza o teatro de revistas e estréia sua primeira revista em dezembro de 1940 no Teatro Recreio. Investia muito, sapatilhas, roupas e cenários comprados no exterior, maestros como Eliezar de Carvalho, Osvaldo Barbosa, Leo Perachi e Villa Lobos compunham e faziam arranjos para sua companhia, sem contar com os músicos, todos do Teatro Municipal.

Sua “peças” (como Walter Pinto chamava as revistas) principais foram: Eu Quero Sassaricar, É Fogo na Jaca e Tem Bububu no Bobobó. Lançando nomes como: Mara Rubia, Virgínia Lane, Salomé Parisio, Mary Lincon, Renata Fronz e Irís Bruzzi. Sem contar com Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Pedro Dias, Vicente Celestino e Gilda Abreu etc.

No mesmo momento histórico que o brilho de Walter Pinto estreava suas “peças” outro nome surgia empolgando o Casino da Urca: Carlos Machado. Regente da orquestra do Casino, sem saber ler uma pauta musical, regia apenas como mise en scêne, ficou conhecido de 1940 até 1946. De repente o desemprego, 1946 o fim dos Casinos. Carlos Machado parte para a carreira de promotor de espetáculos noturnos. Diferente de Walter Pinto, suas apresentações não eram em teatro, mas boates e clubes noturnos. Enquanto Walter Pinto reinava inconteste na Praça Tiradentes, a boate Night and Day (Teatro Serrador Cinelândia) era o reino de Carlos Machado, e posteriormente a boate Fred´s no Leme.

Sua lista de sucessos inclui obras primas como: Chica da Silva, Banzô Aiuê, Skindô, O Teu Cabelo Não Nega e Feitiço da Vila (homenagem a Lamartine Babo e Noel Rosa).

Carlos Machado também tem sua galeria de lançamentos: Betty Faria, Marina Montini, Esmeralda Barros, Aizita Nascimento, Norma Bengel, Tãnia Scherr, Sueli Franco, Dorinha Durval e Lana Bittencourt.

Faz também incursões no teatro de revistas produzindo “Ninguém Segura o Mocotó” com Colé, Darlene Glória e Martha Anderson. Levando vários espetáculos para o exterior.

O terceiro “Rei” da Trinca que a Mangueira vai “jogar” no carnaval não é brasileiro, mas adotou esta cidade como terra natal. Nascido em 1947, em Santiago de Compostela, capital religiosa da Espanha, Chico Recarey chegou ao Brasil aos 27 anos com muita vontade de construir e trabalhar. Foi copeiro na praça da Bandeira, trabalhou no Catete e de lá para a Pizzaria Guanabara no Leblon, tornou-se proprietário desta casa no famoso Baixo Leblon. Este foi o passo inicial para construção de seu reino de casas de espetáculo, bares e restaurantes. Incluindo o Scala I e II, em cujos palcos são reeditados os espetáculos e shows artísticos com o mesmo nível de qualidade que caracterizavam os trabalhos de Walter Pinto e Carlos Machado. Chico Recarey é cidadão do Rio de Janeiro e detentor da Medalha Pedro Ernesto.

A Mangueira que é espetáculo, e é a rainha das noites do Palácio do Samba, “lá do alto anuncia: Trinca de Reis”. Esses três homens, que guardando suas diferenças de estilo e época, têm em comum o fato de atuarem no glamouroso meio do show bussiness.

Departamento Cultural2

Desfile da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira – Sambódromo da Marquês de Sapucaí, 1989
Foto: Armando Borges

Mangueira aposta em reis da noite para vencer

Os integrantes e torcedores da Estação Primeira da Mangueira já podem ensaiar os primeiros passos e afinar os pandeiros e tamborins para o próximo carnaval. Lançado no último dia 9 na boate Un-deux-trois, no Leblon, para o desfile de 1989, o enredo “Trinca de Reis” levará para a Passarela do Samba a história do teatro musicado homenageando os empresários Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey — todos mangueirenses.

Criado por J. Ramalhete, o enredo lembrará os gêneros musicais que fizeram sucesso no teatro nas quatro últimas décadas. O Diretor de Patrimônio, Tio Jair, considera o tema rico:

— O assunto, que nunca foi muito explorado, possui raízes cariocas. Os espetáculos noturnos são uma tradição da cidade. Já bati palmas muitas vezes para os shows do Teatro Recreio até a década de 50.

Segunda colocada no último carnaval com o enredo “Cem anos de Abolição — realidade ou ilusão”, quando ficou a um ponto da Vila Isabel, por ter recebido nota nove no quesito comissão de frente — a escola promete um desfile capaz de emplogar seus fãs.

— Estamos animados. Com a escolha do enredo começam os preparativos para garantir uma apresentação com brilho e garra. A escola sairá com o mesmo número de pessoas do último desfile — diz o Diretor.

Tia Jair adianta que Recarey, Carlos Machado e Walter Pinto serão os principais destaques da Escola. Já o carnavalesco Júlio Mattos dividirá a evolução da verde-e-rosa em três partes. A primeira lembrará os espetáculos promovidos por Walter Pinto — o Rei da Praça Tiradentes — na década de 50. Os animados shows de Carlos Machado nos anos 60 serão lembrados pelo segundo bloco. Na última etapa do desfile, serão mostrados os principais eventos programados por Chico recarey a partir da década de 70. Júlio Mattos visitará a Lapa, Praça Tiradentes e as casas de Recarey, e consultará os arquivos dos três.3

A VERDE E ROSA APOSTOU NUMA TRINCA DE REIS

A VERDE E ROSA APOSTOU TUDO NUMA TRINCA DE REIS
A trinca de ouro da noite carioca: Chico Recarey com Dona Zica e Angélica; Carlos Machado e sua star maior, a filha Djenane; e Walter Pinto com Virgínia Lane — um assombro de grandes e sassaricantes coxas.
Foto: Paulo Reis/Manchete 18-2-89

Neste ano, o Rio mais rosa do que verde, contou na passarela a história da noite carioca com o enredo Trinca de Reis: uma homenagem ao teatro de revista de Walter Pinto, aos grandes shows de Carlos Machado e ao music-hall hoje patrocinado por Chico Recarey. Com muito luxo e plumas nas fantasias, e brilhos, faíscas e cintilações em seus 10 esplêndidos carros alegóricos, a Mangueira passou em revista a ilusão da vida noturna, sem esquecer a boa tradição do samba no pé. No verdor dos 60 anos, a Estação Primeira continua contagiando os corações.4

Desfile 1989, TV Manchete

LÁ DO ALTO

O Samba Enredo da Mangueira tem uma história que se confunde com a história da Escola — tem raiz na comunidade. Os três compositores de TRINCA DE REIS são pratas da casa: Ney João (46 anos) é aposentado dos Correios e morador da Candelária (parte do Morro da Mangueira próxima à Quinta da Boa Vista), Adilson (41 anos) é do internacional Buraco Quente e Fandinho (67 anos) é morador da Fundação, também subdivisão do Morro da Mangueira. A amizade dos três, que vem desde os tempos da Cerâmica — local onde no passado a Mangueira ensaiava, e o tempo que pertencem a Ala dos Compositores (mais de 10 anos) facilitou a feitura do samba.

Lá do alto do Morro, na Candelária, surgiu a inspiração para a letra e melodia deste samba. O objetivo não foi fazer um samba clássico, mas sim alegre, bem para cima, para a escola desfilar com muita naturatidade e leveza. É bom destacar que apenas Ney João teve uma iniciação musical, adquirida com a mãe, através de aulas de violão e já foi campeão três vezes de sambas de enredo. Os outros dois aprenderam versar e a musicalidade na Universidade do Samba — A Mangueira.

Apesar de comporem há muito tempo é a primeira vez que terão uma recompensa financeira à altura dos seus valores musicais e da dedicação a ala dos compositores, hoje denominada Departamento Musical. Departamento este de grande desempenho no contexto da nossa agremiação, reunindo-se todas as semanas, para desenvolver suas linhas de atuação. Uma delas deve aqui ser citada, que é a não aceitação dos chamados “Compositores de aluguel”, personagens que só chegam na Escola com interesse de disputar e ganhar o Samba Enredo.

O acaso ajudou estes 3 compositores, isto porque numa manhã dentro do Buraco Quente houve o encontro deles com o puxador Sobrinho. Este aprendiz do Jamelão queria retornar a Mangueira, sua escola de origem. Esta oportunidade surgiu quando os três compositores deram a ele a responsabilidade de defender o samba. A participação do Sobrinho, que é sem dúvida um grande puxador, foi vital para a vitória desses três guerreiros.

Agora vamos aguardar o domingo de Carnaval para cantarmos juntos na passarela, buscando mais uma vitória!

Depto. Cultural5

  1. Elízio Dória Filho – Presidente da Junta Governativa da GRESEP de Mangueira. Revista G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA CARNAVAL 1989 ↩︎
  2. Revista G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA CARNAVAL 1989, p.6 ↩︎
  3. “Mangueira aposta em reis da noite para vencer”. O GLOBO (RJ) n.19.901, 18-5-88 MÉIER (n.319), p.23 ↩︎
  4. “A VERDE ROSA APOSTOU TUDO NUMA TRINCA DE REIS”. Manchete (RJ) n.1.922, 18-2-89, p.6 ↩︎
  5. Revista G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA CARNAVAL 1989, p.13 ↩︎